sábado, 11 de junho de 2016

Mesmo livro, uma nova história

Estávamos conversando, um amigo e eu, e ele me contava sobre uma história do passado onde o mesmo me falou em um determinado momento: "as vezes esse tipo de coisa me lembra aquele seu livro preferido, onde você já sabe o final, mas sempre pega para ler, só pelo sentimento que ele te traz". Essas palavras dele ecoaram na minha cabeça e eu comecei a divagar sobre elas e perceber quanto sentido havia naquilo e quanto eu me identifiquei. Sabe, é incrível quando em determinados momentos da vida, nós insistimos nos mesmos erros, mesmas atitudes, mesmos sentimentos e simplesmente sabemos o que irá acontecer no final das nossas ações e quais serão os resultados. Eu pensei no sentido daquele livro, e na minha vida e comecei a pensar em tudo o que eu fiz e estava fazendo e percebi quantos rumos iguais eu tomei sem perceber. Eu me vi relendo aquele velho livro com a esperança de que o final fosse mudar e então eu percebi que eu estava fazendo exatamente a mesma coisa e que por isso o final não seria diferente. Seria cômico, se não fosse trágico. Eu pensei nas mesmices em que eu cai por minha própria culpa e o quanto eu poderia ter mudado tudo se tivesse colocado apenas algumas vírgulas naquela história. Eu sorri e me peguei rindo da minha própria cara de chateada por começar a fazer tudo novamente. Eu estava realmente achando que mudaria o final daquele velho livro? Não que ele deixaria de ser meu livro preferido, de qualquer forma, mas eu jamais poderia mudá-lo. Então eu sorri para ele, o abracei e o coloquei na mesa da escrivaninha. Eu caminhei até o meu estojo e peguei uma simples lapiseira e voltei onde eu estava. Eu tracei vírgulas nele e acrescentei certas palavras e quando terminei tudo, eu simplesmente sorri um sorriso estonteante, daqueles de tirar o fôlego, pois eu não precisei mudar o livro que eu tinha a muitos anos, eu apenas dei a ele um pouco mais de mim. Eu dei minhas vírgulas, minhas palavras, meus pontos de interrogação e até algumas linhas. Eu deixei um pedaço de mim ali, porque eu precisava mudar aquele velho livro, mas não de uma maneira radical, rasgando suas páginas e tirando alguns de seus versos, eu precisava acrescentar a ele a minha essência. Eu o li novamente e percebi que a velha história estava ali, mas ao mesmo tempo era uma nova. Eu pensei nas infinitas possibilidades que eu poderia ter escrito, mas me abstive, apenas pelo fato de que ele era meu, mas a história pertencia a outro autor. Não seria correto remover páginas e capítulos, então sorri com aquele final. Aquela emoção distinta da qual me tirou lágrimas e sempre me entristecia quando lia o final daquele livro, se transformou na felicidade plena de doar a minha essência de sorriso. Era um livro que não me entristecia mais, e que sempre teria um pedaço de mim. Era o livro da minha historia predileta, com meus pedaços envolvidos. Era um novo sentimento, um amor diferente, uma chama ascendente que levou de mim toda a agonia que um dia já tirou meu sorriso. Eu fechei e olhei para a capa, dei um beijo em sua moldura e o retornei na estante da vida. Eu suspirei e sorri. Ele sempre seria meu livro preferido. Ele sempre iria mexer comigo. Mas agora nós tínhamos ligações diferentes. Ele tinha um pouco de mim e eu um fiquei um pouco mais contente. Aliviada então, juntei as peças dos meus sentimentos e segui pela porta para mais um dia de liberdade feliz de que aquela história era agora, uma parte da minha realidade. Eu agradeci ao meu velho amigo pelas palavras e fui caminhando sempre em frente, escrevendo mais um capítulo.
(Mayra Turquetto)

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